Marmelada branca de Odivelas

Manjar do Amor

Em cada mordiscadela se contemplam mais de 700 anos de história e estórias, de lendas e mistérios, de pecados e remissões, de confissões e perdões, de amores e desamores. Deixe-se tentar.

A Marmelada branca de Odivelas nasce no Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas, fruto do saber aprimorado pelas monjas Bernardas, ao longo dos séculos, distinguindo-se pela cor branca e pelo maior sabor a fruta.

Exclusivo de Odivelas este doce branco celestial era oferecido a convidados e a visitantes, tradicionalmente na forma de pequenos cubos, que se levavam à boca e se comiam como se de um bolo seco se tratasse. A marmelada destinada à venda era embalada numa caixa de cartão que incluía um poema.

Entre muitos segredos entre quatro paredes guardados, as religiosas, exímias na confeção da Marmelada branca, permitiram que o testemunho da autenticidade da marmelada produzida noutros tempos chegasse aos nossos dias; chegasse às nossas mesas – hoje, Marmelada branca de Odivelas.

“Descascados os marmelos, vão-se deitando em água fria. Vão a cozer em lume forte e depois passam-se por peneira. Para 480 g de massa, 960 g de açúcar em ponto alto, de modo que deitando uma pinga na água coalhe; então tira-se o tacho do lume e deita-se-lhe a massa muito bem desfeita com a colher; volta ao lume até fazer bolhas, tira-se para fora e deixa-se esfriar, para pôr em taças a secar.”


  Transcrição adaptada da receita da última monja do Mosteiro

Este legado das monjas Bernardas resistiu à extinção das ordens religiosas em 1834. A receita original chegou até aos nossos dias através de um caderno de receitas deixado pela última Monja, D. Carolina Augusta de Castro e Silva, que faleceu em 1909, à sua afilhada – D. Virgínia Adelaide Simões dos Santos.

Ao passar para a sociedade civil, a receita da marmelada foi sendo cada vez mais difundida, passando a confeção desta iguaria a ser produzida e comercializada por fabricantes locais.

A marca Marmelada branca de Odivelas

Ninguém faz marmelada como nós

O Município de Odivelas, em parceria com a Associação Empresarial de Comércio e Serviços de Loures e Odivelas, promoveu a constituição de uma Secção de Produtores da tradicional marmelada do Mosteiro e apostou na Qualificação e Registo da marca – Marmelada branca de Odivelas, com vista ao processo de qualificação e registo de “Marmelada branca de Odivelas”, na defesa do produto e dos seus legítimos produtores.

 

Qualificação, registo e proteção

A marca Marmelada branca de Odivelas encontra-se registada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial desde setembro de 2010 (Marca Coletiva n.º 466671), tendo sido efetuada a sua renovação em maio de 2020, assumindo-se como um dos elementos de reforço da identidade do Concelho de Odivelas.

 

Indicação Geográfica Protegida

Encontra-se em fase de análise desde Maio de 2020 pela Comissão Europeia o pedido de qualificação de Odivelas como Indicação Geográfica Protegida para o produto Marmelada branca de Odivelas, após entrega da última versão do pedido em dezembro de 2019, ao Ministério da Agricultura que aprovou o Registo Nacional, como Marmelada branca de Odivelas. Esta aprovação permite o uso de Marmelada branca de Odivelas – Indicação Geográfica. Assim apenas os produtores sujeitos ao regime de controlo do organismo de certificação poderão usar esta indicação na Marmelada. O uso de indicações parecidas ou de parte do nome está assim legalmente vedado a outros preparadores.

Um pouco da história do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas

O Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas ganhou fama, ao longo dos séculos, de primar pela liberdade de costumes e a moral do prazer, por ser frequentado por fidalgos e ter como sua mais famosa residente Madre Paula, amante predileta de D. João V, de quem se dizia ser um Rei tão religioso que todas as suas amantes seriam monjas.

“Em Odivelas tudo era doce, desde o amor que as monjas prometiam no fusilar das suas pupilas e na suavidade das suas vozes, até à marmelada de exquisita composição, com que se atafulhavam os aristocratas e os vates.”

 

 

Os Grandes Amores de Portugal – Rocha Martins

Marmelada Branca de Odivelas - Produtores

Conceituado e igualmente famoso pelo seu receituário doceiro, o Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas perpetuou sabores de tempos seculares, que resistiram até aos nossos dias; falamos dos Suspiros de Amêndoa, das Raivas, dos Tabefes, dos Esquecidos, do Toucinho do Céu e, claro da Marmelada de Odivelas que se afirma hoje como Marmelada branca de Odivelas.

Mandado construir pelo Rei D. Dinis, em 1295, o Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas, entregue à Ordem de Cister, acolheu filhas e muitas segundas filhas da nobreza, como forma de acautelar um modo de vida compatível com a sua condição social. Faustosa foi sendo a sua riqueza: dotado de muitos e proveitosos bens materiais, de reputação e de influência; tanto quanto da formosura e da beleza das donzelas que acolhia. Nunca, em tempo algum, alguma coisa lhes faltou.

Diz-se que o prestígio das monjas era de tal modo elevado que mesmo em tempos de grande crise e escassez, como após o terramoto de 1755, imperava no Mosteiro a abundância. Este era um sacrário da doçaria – nunca às monjas faltou o açúcar, produto raro, privilégio de poucos – para adoçar a boca dos seus eleitos. Nunca faltou açúcar para fabricar, entre muitos doces, a afamada marmelada; a coroa de glória das monjas.

Quase todos os Reis desde D. Dinis frequentaram o sagrado Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas. D. Afonso VI esforçava-se para conquistar mulheres em longas noitadas e, tal como os seus antecessores, incluía com frequência e nas suas preferências este Mosteiro para as suas conquistas.

Reza a História que D. João V, que reinou entre 1706 e 1750, não dispensava a tão prazerosa marmelada que abundava pelo Mosteiro de Odivelas, sendo seu frequentador assíduo; visitante habitual das suas eleitas, que o disputavam com muita doçura. De entre todas D. João V elegeu, para sempre, a Madre Paula.

Além dos escândalos e anedotas sobre o Mosteiro, as madres e abadessas, eram também célebres, até 1852, os Outeiros, concursos de trovas em que poetas e numerosos fidalgos improvisavam, no pátio, com base nos motes que as monjas lhes atiravam das janelas, tendo também sido igualmente fonte de inspiração literária de inúmeros nomes ilustres nacionais, onde salientamos Camilo Castelo Branco, com a sua obra “A Caveira da Mártir”.